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A gastronomia portuguesa como você nunca viu.

  • Foto do escritor: Fabio Pereira
    Fabio Pereira
  • 4 de fev. de 2017
  • 7 min de leitura

Ainda que um país com dimensões reduzidas, Portugal é um vasto continente no que diz respeito a sua gastronomia. As influências atlânticas e mediterrâneas fazem da gastronomia portuguesa um variado e saboroso conjunto de sabores e aromas.

Basicamente a tríade que sustenta tudo isso é o pão, o vinho e o azeite que circulam livremente entre os diversos pratos típicos regionais. Além disso a carne de porco e seus miúdos, altamente consumidos pelos portugueses são parte de um conjunto de pratos e petiscos regionais, onde os presuntos e os enchidos tem destaque. Não podemos esquecer o bacalhau, célebre na mesa dos restaurantes e das famílias portuguesas. Com as descobertas marítimas e as navegações, a culinária portuguesa integrou as especiarias, o açúcar, além de outros produtos, como o feijão e batata, que foram sendo adotados como produtos essenciais.

Vamos ver um pouco como a culinária portuguesa vai além do que podemos imaginar e provar.

O PÃO

O pão é a base da alimentação dos portugueses. Com diversos formatos dependendo da região onde se está, o pão português não se resume somente ao feito de trigo. As broas de milho típicas do norte ou as broas de Avintes do Porto, o pão de centeio da Serra da Estrela, o pão alentejano com seu miolo compactado que dura dias são alguns dos exemplos de quão importante é o pão na vida da culinária portuguesa. E com eles se faz uma variedade de pratos começando pelos torricados (pão torrado com azeite) do centro de Portugal, o bacalhau espiritual, ensopados, as famosas rabanadas, os pães com chouriço (frequente nas festas populares), os folares (típicos da Páscoa) ou os pães baixos do Minho que acompanhados de uma sardinha ou bifana (bife) fazem um ótimo petisco.

O VINHO

Se existe algo que orgulha um português (além do futebol) isto é o vinho. Sua variedade aliada a região que é produzido, fazem com os que os vinhos portugueses sejam generosos em sabor e teor alcóolico. De sabor doce (ou nem tanto) os vinho do Porto, da ilha da Madeira e de Carcavelos, passando pelo moscatel de Setúbal são ideais para se acompanhar as sobremesas. O Douro, o Alentejo e o Dão produzem o vinhos tintos e brancos de excelente qualidade devido a sua geografia e clima. No Minho vem o sabor jovem e fresco do vinho verde, e até mesmo na região de Lisboa se produzem vinhos de qualidade incrível.

O AZEITE

Assim como o pão, o azeite é a outra base da culinária. Está nas sopas, nas migas, no bacalhau e até mesmo na confeitaria com a broa de azeite alentejana. A maioria dos pratos portugueses começa com azeite, cebola e alho refogados.

SOPAS

Atire a primeira pedra quem não teve uma avó portuguesa que não soubesse fazer sopa. Se existe um prato que não passa despercebido, este é a sopa. Das sopas frias do verão, como o gaspacho Alentejano, além de diversas sopas de legumes e carnes do inverno, não há quem resista a um prato delas. O caldo verde, com batata e couve-galega (no Brasil chamada couve-manteiga) cortada em tiras muito finas é talvez a mais famosa das sopas portuguesas. No norte de Portugal é comum o caldo verde com rodelas de chouriço. Na região do Alentejo as sopas possuem outro significado. São as açordas, feitas com pedaços de pão, que acompanhada de outros ingredientes, geralmente ovos, carne, ou peixe dão sabor e um toque especial ao prato. O Cozido à portuguesa tradicional e seus acompanhamentos é considerado uma sopa. Já o gaspacho à moda portuguesa, diferente do espanhol não tem pão.

OS ENCHIDOS E A INFLUÊCIA DOS JUDEUS

Os enchidos portugueses são outro destaque a ser apreciado. Começando pelo tradicional chouriço (linguiça) de porco, passando pela Paia de Lombo, a Morcela (feita com sangue) e os Maranhos a variedade impressiona e confunde quem não as conhece. Do nordeste português vem as alheiras, recheadas com pão e carne de frango. As alheiras como conhecemos nos remetem ao século XVI, quando os judeus eram perseguidos pela Inquisição. Por não comerem carne de porco devido a religião começaram a encher as linguiças com pão e frango, dando a entender que haviam se convertido ao catolicismo.

Alguns enchidos portugueses fazem parte da seleta lista de produtos com Denominação de Origem Controlada (D.O.C) da União Européia, tal como é feito com os vinhos.

PEIXES E FRUTOS DO MAR

Além da célebre sardinha portuguesa, do bacalhau, e dos pescados de águas frias e afastadas, os peixes são os mais usados pela cozinha lusitana, ainda que o bacalhau não venha de Portugal e sim da Noruega. Não nos podemos esquecer da grande variedade de mariscos, sem ser de cativeiro, como o berbigão, o mexilhão, as conquilhas e etc. As amêijoas, uma iguaria são utilizadas não só como prato principal, mas também acompanha (e muito bem) a carne de porco à moda alentejana. Existe ainda uma grande variedade de receitas de açordas e feijoadas de marisco, sem se esquecer das famosas cataplanas, prato feito com frutos do mar e peixe, muito encontrado no litoral.

CONFEITARIA

A confeitaria (ou no português luso doçaria) portuguesa deve grande parte da sua origem aos conventos e mosteiros portugueses no século XVI. O uso em abundância de gemas de ovos em muitas especialidades está relacionado com o uso das claras de ovos nos conventos para engomar as vestimentas e para a confecção de hóstias, mas também para a clarificação dos vinhos. Para não desperdiçarem as gemas e com o açúcar vindo do Novo Mundo (o Brasil), os frades e principalmente, as freiras de Portugal aperfeiçoaram as receitas ancestrais. A criatividade extravasava em doces com muito açúcar, gemas de ovos, em frutas secas e amêndoas.

Um destaque é os ovos moles de Aveiro, cujo método de produção original se deve às freiras da Ordem dos Carmelitas no século XIX. Além disso devemos lembrar dos pastéis de nata (incluindo os famosos pastéis de Belém que nasceram no Mosteiro dos Jerónimos), as queijadas de Sintra, conhecidas desde o século XIII, os célebres travesseiros da Periquita, os pastéis de Tentúgal, queijadinhas de hóstia, as Tigeladas de Abrantes, o pudim do Abade de Priscos, os quartos de marmelada do Convento de Odivelas, a barriga de Freira de Arouca, as cristas de galo (ou pastéis de Vila Real ou Viuvinhas), o bolo de Dom Rodrigo, as fatias de Tomar (ou fatias da China), a lampreia de Portalegre (também chamada lampreia de amêndoas ou lampreia de Massapão), a palha de Abrantes, as trouxas de ovos das Caldas, os rebuçados de ovos, atribuídos ao Convento de São Bernardo de Portalegre, o pau de abóbora são uma pequena, mas ao mesmo tempo extensa lista de especialidades mais ou menos conhecidas.

No Algarve, são típicos os doces de amêndoa e de figo seco. No Alentejo, o destaque é a Sericá (ou sericaia), o pão de Rala e os nógados. No arquipélago dos Açores, mais especificamente na ilha da Graciosa são famosas as queijadas. De fato, quase todas as localidades têm o seu doce típico. No arquipélago da Madeira, destaca-se o saboroso bolo de mel.

OS PORTUGUESES E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO

A presença de Portugal ao longo da história, principalmente durante os Descobrimentos do século XV influenciou em ambos os sentidos, os Portugueses a importarem técnicas e novos ingredientes, além de deixar também a sua marca em outros países como Brasil, Índia e Japão.

Da Ásia, onde eram conhecidas como "narang", as laranjas chegaram à Europa através de Portugal no tempo das cruzadas. Da Índia os Portugueses trouxeram, já no perído das navegações as laranjas doces, que plantaram ao longo das suas rotas, dada a sua importância no combate ao escorbuto (que é a falta de vitamina C no organismo) que afetava os marinheiros. Desde então muitos países chamam a laranja com referência a Portugal, como por exemplo:

Búlgaro: portokal

Grego: portokali (πορτοκάλι)

Persa: porteghal (پرتقال)

Romeno: portocală.

Turco: Portakal

Árabe: al-burtuqal (البرتقال)

Georgiano: phortokhali (ფორთოხალი)

Além disso, no dialeto napolitano (Itália) laranja se chama portogallo ou purtualle

Além disso, os portugueses também foram responsáveis pela introdução de vários outros tipos de frutas na Europa.

Para além das laranjas, devemos lembrar das especiarias vindas da Ásia, cujo comércio os Portugueses dominaram por séculos. A canela desde então muito presente na doçaria tradicional, tem a sua influência oriental na gastronomia portuguesa. Pode se ver na tradicional canja, cujo o seu paralelo no asiático é o "congee". Até o mesmo os ingredientes de ambos os pratos são idênticos.

Também do oriente os Portugueses trouxeram o chá, que fez com que a bebida se popularizasse, especialmente entre as classes abastadas da França e Países Baixos. O tradicional chá inglês das 16h, bem como da compota de laranja amarga (orange marmalade) é atribuído a sua origem a Catarina de Bragança, princesa portuguesa que casou com Carlos II de Inglaterra em 1650. Sem ela esta tradição britânica jamais teria existido.

Igualmente teriam sido os Portugueses a levar a primeira pimenta malagueta do novo mundo para a Índia, através da Espanha. Hoje a pimenta é um ingrediente fundamental na culinária indiana, com forte presença na culinária de Goa, onde pratos como o vindalho, se tornaram típicos. Além disso vemos a influência portuguesa na culinária de Macau, que foi importante território português na China.

Os Portugueses deixaram também a sua influência na culinária do Brasil, com variações da feijoada e da caldeirada. Sim, a feijoada é nascida em Portugal.

O comércio português estendeu-se até mesmo ao Japão a partir de 1542. A confeitaria portuguesa deixou marcas na culinária japonesa, onde introduziu o açúcar refinado, originando os chamados Kompeito e ainda na adaptação dos fios de ovos, que originaram a especialidade japonesa "keiran somen" (鶏卵素麺), ou "cabelos de anjo". Esta receita também é muito popular na Tailândia com o nome "Kanom Foy Tong".

O tradicional "pão de ló" derivou em Nagasaki o bolo Castela (カステラ) ou Kasutera. O tempurá, tão famoso na culinária japonesa foi introduzido no Japão em meados do século XVI por missionários portugueses, sendo inspirada no prato português peixinhos da horta.

Espero que este post tenha deixado você com água na boca. Não perca a oportunidade de conhecer a gastronomia portuguesa mais de perto e viaje para Portugal.

Até a próxima!!!

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Fabio Pereira

Desde 2008 trabalho no Turismo. Começei trabalhando a bordo de navios de cruzeiro, viajando e conhecendo as particularidades de diversas cidades e países, tendo contato e aprendendo com diferentes culturas. Com o passar do tempo descobri lugares secretos que muitos turistas não conhecem em suas viagens.
 

Depois de 4 anos a bordo, entre idas e vindas, decidi largar tudo e trabalhar na hotelaria e posteriormente com uma grande operadora de Turismo. Aprendi a parte do Turismo, aquela que não vemos quando compramos uma passagem ou reservamos um hotel.
 

E cada nova viagem vou me descobrindo "um turista sem ser turista", andando, aprendendo e vivendo como os locais. Descobrindo detalhes e coisas que os guias de viagem não mostram.

Aqui eu vou dar dicas, falar de algumas curiosidades, contar histórias e "perrengues" que passei nas minhas viagens, tirar as dúvidas que as pessoas sempre possuem sobre organização de viagem, além claro falar de Turismo na visão de quem trabalha no ramo.

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